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quinta-feira, setembro 10, 2009

Enfim, um debate?


Perante uma discussão tão estimulante, viva, cordata, mas com argumentos, corajosa, com diferenças assumidas, o jantar pode esperar. Pode esperar o tinto particular da Estremadura e o frango caseiro na púcara, as maçãs do pomar e o queijo de Castelo Branco. Um debate assim é para assistir com uma cerveja ao lado. Como no futebol

Estes debates entre os líderes partidários, que nos têm servido à hora do jantar, já parecem um mundial de futebol. De manhã, levantamo-nos, consultamos o jornal e verificamos qual é o jogo de logo à noite. Ainda ontem assistiramos a um Costa Rica-Austrália. Hoje, porém, sabíamos que tínhamos um Inglaterra-Itália. E o jogo confirmou. A Inglaterra (Francisco Louçã) jogou, jogou, atacou, atacou, pressionou, dominou - mas a Itália (José Sócrates), fechada no seu catinaccio, manhosa, prudente, cínica, fez um contra-ataque, foi uma vez à baliza, marcou um grande golo e ganhou o jogo.

Oportunidades de golo

Francisco Louçã desfez a ideia de maioria absoluta como sinónimo de governabilidade. E, para isso, usou a artilharia toda: a instabilidade com os professores. "A maioria absoluta arrasou a governabilidade". E prosseguiu, citando o próprio José Sócrates e recitando uma frase cinéfila: "Eu sei o que fizeste no verão passado". E continua a ter oportunidades flagrantes de golo: "Na esquerda é preciso coerência e um bom primeiro-ministro". E ainda: "A esquerda tem de ter uma só palavra e é isso que nos distingue". Mas os centrais da Itália jogam em bloco. Sócrates está à defesa e vai rechaçando os remates: "No final do dia ganho eu ou a dra. Manuela Ferreira Leite". Ou: "É extraordinário que, ao longo desta campanha, Francisco Louçã tenha feito do PS e de mim o seu inimigo principal". E ainda: "Candidato-me para vencer a direita, não o Bloco de Esquerda".

Equilíbrio a meio campo

Lentamente, o jogo equilibra-se. José Sócrates faz o primeiro ataque, com a questão das nacionalizações. Louçã entra, pela primeira vez à defesa. Defende-se bem, com a questão da GALP e das concessões à Mota Engil. O líder do Bloco de Esquerda leva casos concretos ao debate, contra o estilo mais parabólico de Sócrates. Uma discussão ao estilo dos Gato Fedorento (o papel, qual papel?) sobre uma adjudicação que "foi feita, não foi feita, foi feita sim senhor, não foi feita não senhor, resulta numa fase de anti-jogo e bolas para o pinhal. Mas algo está para acontecer...

Golo da Itália

Apanhando os "centrais" em contra-pé, a Itália faz uma jogada com o tema da fiscalidade. José Sócrates pega no programa eleitoral do Bloco de Esquerda e desata a descascá-lo. Põe a nu as propostas estatizantes do BE, com o fim dos benefícios fiscais, no PPR, nas despesas de Saúde, nas despesas de Educação. Afinal, O BE tem de ir buscar dinheiro a algum lado para impor certas políticas. Sócrates mostra aonde: vai-nos ao bolso, nas poupanças e nos descontos do IRS! Os comunistas já não comem criancinhas ao pequeno-almoço: acabam com as deduções da classe média! Com instinto matador, o líder do PS não larga o osso. O sorriso amarelo de Louçã denuncia surpresa e embaraço. No meio de uma explicação que contorna o tema, Louçã diz que não quer um regime fiscal cheio de "esquinas e armadilhas". O eleitor médio não percebe bem o que quer dizer: está a atirar-se para o chão, a pedir falta...

Bola à barra

Louçã atira uma bola ao ferro, com a denúncia da inauguração fraudulenta do hospital de Seia, em que se devolveram as camas ao fornecedor, depois da fita cortada. Mas é um faits divers insuficiente para recuperar. Sócrates aproveita a última intervenção para explorar as contradições de Manuela Ferreira Leite, feliz e contente na Madeira, ao lado de Alberto João, depois de tanto falar de asfixia democrática no Continente. Nesta altura, a Itália (Sócrates) já está com a cabeça no jogo da final. Sábado, dia 12, contra a Alemanha (de Manuela Ferreira Leite)...