De repente, noto que o que estou a fazer me parece vagamente familiar; e no instante seguinte, percebo que me estou a repetir, que estou há não sei quanto tempo a fazer as mesmas coisas. Interrompo o acto, assustado. E um medo inesperado trespassa-me, vertiginosamente:e se a minha presença, está, simplesmente, a aborrecer-te, a incomodar-te, a importunar-te?Começo a chorar, baixinho mas com vontade de o fazer descontroladamente, com histerismo e indiferença. Olho em volta, sentindo-me perdido e desamparado, abandonado e esquecido pelo mundo, impotente. As perguntas de sempre, repetindo-se com monotonia: que fazer? para onde fugir? como suportar? Rodeado pelo silêncio lúgubre deste compartimento,sozinho; e tu, imóvel: para sempre. Sinto-me, não consigo deixar de me sentir, a criança indefesa e assustada que – possivelmente – nunca deixei de ser; e pergunto-me, apenas por hábito, sabendo que não obterei resposta: quem me protegerá, agora?
Serás sempre a brisa. Serás sempre o mar, o sol e o frio. O calor e a saudade. Sejas ou não sejas, eu sei o que sou, o que dei, o que dou, o que recebo, o que recebi e o que tenho para dar.