
ELE (falando num murmúrio quase inaudível, apenas quando tem a certeza de que ela está a dormir, que será incapaz de o escutar): Sabes, por vezes estou aqui a ver se durmo e dá-me uma vontade quase irresistível de me levantar e ir até à varada. Alguma vez sentiste o mesmo? (Sorri no escuro.) Ir até à varanda e saltar. (Parece saborear a sua confissão, a liberdade de se sentir livre de segredos.) Saltar no escuro e ver o que acontece. (Permanece silencioso durante alguns segundos, olhando fixamente a janela aberta e pensando.) Tenho medo que um destes dias seja incapaz de resistir à tentação.
(Nesse momento, ela move-se um pouco, acomodando o corpo; como se tivesse realmente escutado o marido e a incomodasse a perturbação do silêncio; não o conteúdo da confissão, apenas a perturbação do silêncio.)