Preciso de saber de ti, mais do que preciso de ti. Não aguento, sabes?, não saber por onde andas, o que te move, a quem te dás e por onde te deixas. Imagino que por vezes te movas bambo, trémula, por entre o desgosto e a bulímia, por entre o jacto e a euforia, mas nem disso tenho a certeza: suponho-te, quase tanto quanto te amo. Nos dias ímpares, duvido-te. Sei que por aí já se sente o degelo e que a Primavera amolece os corpos e tinge de turquesa o mar, embora pressinta que não repares nisso, ocupada que estás em amesquinhar as coisas. Dói-me o corpo e estranho-me, como se eu cravado em mim; és uma transfusão do tipo errado de sangue, ou do tipo de sangue certo mas a circular pelo avesso: entras-me por artérias e sais-me por veias, pirateando-me as intenções e deixando-me num desnorte de náufrago, porém centrífugo: em deixando, vou rapidamente ao fundo e a pique. Há um travo cómico-trágico na desmesura com que não estamos, uma dimensão teatral que polui a realidade e exacerba a distância ( apesar de tão poucos(ou não), os quilómetros). Ardo por ora numa combustão sem propósito, investindo o sobressalto contra as almofadas de penas, empurrando com raiva o lençol para os fundilhos da cama. Há um rancor que me rói a pele e me estraga os planos, a cada vez que me lembro do limbo sulfuroso em que te moves, da insegurança pantanosa onde às vezes me afundas, e de como num ápice fazes tábua rasa de tudo o que ficou para trás, ainda ontem éramos felizes. Dá-me medo de que não mude nunca, de que um dia seja só frases de guerra e de que, ao invés, me mudes a mim cada vez mais. Enquanto isso eu aqui, líquido desfeito, a gerir a saudade e o rancor em partes iguais, expectante e mal-resolvido. Não aguento, sabes?, não saber por onde andas, trémula bambo, mendiga eufórica, trágica insegura, meu sangue, minha vida.
Escrito por a.